sábado, 19 de novembro de 2011

Enquanto eu bocejava; 10.11.11 - 21:52

Há dias em que a rua é falha
e o horizonte mestiça
a moça que cedo passa
muito atalha
e desperdiça

o céu pousado, em prumo!
e o cumprimento apertado
das mãos dos olhos do rumo
perdido num pouco bocado

do tempo do meu Planalto.

(deveras, a bruma disfarça
o lilás que ela curia)
enquanto fremem-lhe os olhos
na parada eterna do dia!

tem os braços aterrados;
[temo fitá-los, pela melancolia
a que o gesto remetia
e ela não via]

quando o véu de estrelas rubras
em verde-claro pejo veio
perco a rua, namorada,
e meu puro devaneio

acaba na esquina
entre a Alvorada e a vida
[que me distraía]
enquanto a menina ficava
e a curva
sumia.

That's for you, inspirational thing; 05.11.11

Last time we met you had a funny moustache
and my nails would break so easily
from touching scats upon your face
and my fingers still hadn't met
their parents

they now use necklaces
well, everybody's a rebel those days
but what I really meant to say
was that you shouldn't dress like this if it ain't winter
or mention you were getting Cummings
while reading a bus

because once your goats ate me
and I've cut my hair without washing you out
since we no longer mess things up together
[but apparently, you still hadn't smoked all of your years]

mein lieber, once a girl fell from love
shall her skin grow and her pain rejoice
but last time we met wasn't all that long
ago, was it?

if it's my mind that you've always wanted
quit the part where you take my corpse to dinner
and live until your french is perfect
or you've forgotten
Oberst introduction to that selfish song

oh, selfish you,
next time we'll meet in graves
and my hands will keep on burning
while you nod
suddenly
cold.

Como ser manchete em manhã de cidade grande; 15.10.11

A pomba, emprumada e satisfeita,
do parapeito ainda a bruma namorava
e para cada transeunte que passava
erguia imunda, asa peito pena e cauda

quando seguia corpulenta senhorinha
ou apressada, bicava o pó no asfalto
ainda assim, atinava fluorescências
orgulhosas no pescoço imaculado

mas ao pousar janela altiva, por acaso
e ver migalhas de pão amanhecido
após semanas de estômago airado

propô-se então a matá-lo, envaidecido
pois se um salto a restringia ao vôo lento,
seria a fome a alçada ao suicídio.

Rascunho de cartografia d'alma podre; 25.10.11


Receio, ao meu recurso batido
retornar, querido amigo,
ah! mas que mentira dura é o assim chamar.

só por não ter mais vocativo
audácias tantas, amarguras,
das doiduras os resquícios
[que tua vaidade mantém quistos]
deixarei-os descansar?

Jamais! a vingança que aqui o trago
- que seja, em tom de enfado-
não é mais de meu agrado
fazê-la mansa ou minguar

quero um poema medonho
que atraia cada (teu) sonho
e apresente-o a seu par

e que este equivalente
seja monstro em tua mente
como à minha compactua
[um mar com que condigo]

ferrenha será a desgraça
quando deparares comigo
não mais sã que a tua loucura

mas o teu tormento trará
num momento que o pavor embaça
[que teu monstro com gosto empenha]

ao teu encontro comigo
e no próximo, meu amigo,
um verdadeiro vocativo

e um verdadeiro poema. 

Soneto de aniversário; 28.09.11

Quando pequena ouvira
de minha precoce infância
mas como já grande criança,
nem sequer pequena eu era!

e às vésperas da mocidade
menina há tanto menina
encaminhei, clandestina
a ida infância à eternidade

talvez não no corpo impotente
nem na mente calejada
ou na dita palavra que mente

mas na alma, eterna pequena
que na infância abortada,
enterrou tanto poema.

Como fazer da coisa a causa; 26.09.11


        Estive sempre pensando no além-mar durante meus anos naquela cidade amoitada; queria estar na frente da batalha e não entre os guardiões do porto, os inválidos e invalidados, os invariáveis. E era tão intrínseco à minha mente de menina pegar o jeito dos outros, que até querendo contrariá-los me perdia: acomodei-me com a verdade de uma fuga enevoada quando mulher. Nunca, nunca saberei se o crescimento que lá tive me foi o natural ou se fui como a semente em seu estado de dormência, para o despertar na primeira brisa de primavera. Verdade seja dita não aconteceu nem d'um jeito nem do outro - meu dia de pegar em armas chegou antes de pronta a armadura. Já era tempo de enveredar por algum caminho, de não só olhar nos olhos do futuro, mas também contar em seus cílios meus anos de prosperidade prevista. Senti medo; senti antes de tudo vergonha de ter-me colocado em pé de igualdade crítica a tantos Napoleões e Leônidas, como se tivesse matado um homem e não somente visto a cor de seu sangue contada nos livros por eles vividos. Eu era teoria. Era um sumário e os portões se abriam já querendo a trama do prefácio feita, e boas ideias para um desenvolvimento. Meu barco era maior que os outros, e os homens que eu impressionaria imponente pisando-o eram bocós de uma aldeia seca demais para fazê-los babar. Em nome deles eu havia me tardado tanto a tomar prumo, a cortar o cabelo como faziam as gueixas, mas sem perder a franja indígena que tão bem me caía. Não, eu não era honrada, não era digna. Mas pensando assim é que meus conterrâneos haviam hesitado; por que lutar pelo que não mereço, quando existe o pôr-do-sol no cais? Deixe-me contar um segredo, mesmo não tendo cacife para tal: viver de felicidades passivas é como dar a um homem com sede um pedaço de pão. Pela primeira vez choveu e vi minha pintura desmanchar-se. Senti que as roupas pesavam, mas meu corpo tinha curvas e meu rosto tinha vincos, e mesmo sabendo da espera que me aguardava antes de poder zarpar, já ia contando tripulação.
        Era meu o vento que ansioso perguntava: “para onde devo ir, e como? Assim mais manso?” E combinávamos bobos uma tempestade por mês, seguida da calmaria de destroços muito inteiros, de passados tão consistentes que para sempre boiariam sem atracarem ou afogarem-se. 
Porém há mais na terra do que espera um sonho. Numa manhã de mormaço, fui à prancha, mas minhas costas doíam da parábola da demora, e virei-me para ver, e ver se me fazia falta, o tempo dos conselhos e das contrações no peito. E me vi caminhando na direção contrária ao meu destino antecipado e glorioso, em nome d’uma andorinha gorda que tentava em vão alçar vôo. Dela sim já era hora, logo até essa teria passado, e mesmo sem sabê-lo ela punha as asas em riste; como em uma engraçada posição de ataque. Pus minhas mãos revolvendo-a, mas depressa a soltei e fui seguindo seus pulos boçais até onde se construía os barcos todos. Minha ilha era cheia de guerreiros, de gente que nunca havia chorado apesar do calor ou da rotina. O caminha para minha casa tinha roseiras espinhentas como a adolescência de tantos que não se amotinavam dos amotinados, como eu tão bravamente queria fazer, e para ver o pôr-do-sol era preciso subir a pé três horas de ruas íngremes. A maior conquista de Napoleão teria sido mais atenção da parte da esposa, e nesse dia meus olhos se abriram tanto com tais constatações, que foi meus cílios que contei. Resolvi ficar. Não peço desculpas ao vento, pois em seu lugar eu consideraria minha traição ultrajante, mas querido, leve ainda o barco. Faz questão de destroçá-lo e fazer lembranças eternas dos nossos grandes planos. Escrevo daqui sentada, já de antemão avisando que não nasci para a guerra e que não sei do que estou falando. Mas anteontem decidi que vou morar com os índios e aprender com eles a fazer tranças espinha-de-peixe, e a batalhar mesmo assim, que seja por um pouco de chuva na cidade, que seja por um espírito menos veloz;
       Que seja não só para quebrar a dureza da semente, mas para levá-la adiante até que floresça, até que espinhe, até que eu saiba tudo de mim e possa então ir a mar aberto. Torçamos para que eu não esteja gorda demais para tentar. 

O pulo da metamorfose; 07.09.11

Forçar bom livro não mais me faz menina
quando a moça em mim já desabrocha
mas se não posso ser mulher ainda
que força é essa que de mim debocha?

E de mãos dadas com um bom garoto
meu caminho nunca se encomprida
mas se sou eu também boa pessoa
que pressa é essa que me rega a vida?

Trago cominho na cesta de verduras
mas num cigarro nunca dei um trago
apesar de bons livros dizerem o contrário

E para que boas frutas tornem-se maduras
Ah! Mordo a boca quando penso um cado
Um bom livro é sempre necessário...

No A.A.; 29.08.11

Todo dia
se sento
tenho o tento de levantar
antes de pausa
ou pouso no sofá
Não ponho mais
os pés
na cadeira
porque minha mãe não deixa
e Bukowski disse
que não é assim
E se vou ao carro
e não tenho carro
é que meu espelho
me deixa enorme
e Kafka gosta de naftalina
no porta-luvas
Pro almoço eu vou sozinha
é self-service
é self-vive-se
e deus morreu
como assente Nietzsche
de dentro do piano
Que toco enquanto perco os ouvidos
o que me lembra meu
eu benigno
enquanto pinto
[van gogh não conheceu beethoven]
Quando sonho então
com o paraíso
sou Kahlo ou Poe?
sou ou não sou?
E antes de entornar de novo o vinho
antes que vire
Caio Fernando
e acabe amando
algum Jorge Amado
vou indo embora
que se durmo
é um pesadelo!
pensem vocês que dei
por ver agora
gente viva.

O apelo inanimado; 01.08.11


Meu Deus! Os meus colhões,
Deixei-os no canto da sala
Juro que enquanto escrevo
O canto vem e me fala:

"-Abra o passo, no respiro
colhe um verso na fechadura
Que se escreve enquanto canto
Sei que dura.

E menina! Quantos dias
até o vento te fechar as cortinas?
Aproveita do espaço de dentro
Que o mundo amanhã assovia.

Porque lá fora foi embora;
Tudo foi enquanto
Colhe o dia ainda em hora
Olha e volta pro canto.

E não se importa com o atraso
Do relógio da cozinha
A casa inteira canta raso
Com o fato de você 
[já dormir sozinha]

Mas não, não deixe a casa,
mesmo que por enquanto,
Se você abrir a porta, nunca mais volta.

E nunca mais os nossos quartos
Saberão ter os colhões
Do canto."

Sem sinais pontuais perdão; 19.07.11

A coisa boa dos poemas
É a finesse
O ponto do meio andante
A frase que diz comece

Não com essas palavras.

Mas eu? Quero um poema
Que desmanche na chuva
E ponha-se itálico
Através dos olhos
E que caminhe.

E que entre no metrô
No bolso de um sonho meu
Um poema livre, quem sabe?
Um poeminha retrô.

A última coisa boa
Desse poema que digo
É entrar pela boca
E morar no umbigo.

(Da minha estacão).

Clarividência; 26.06.11

Valha-me Deus! - A falha memória
minha, causou-te essa dor que pressinto?
E a casa da velha andorinha, min'história
Tornou-a sucinto?

Sucinto cais mordaz do repouso
Abrigo de penas e pingos, mas Deus!
De pássaro amado a um jazigo apenas?
Saudade que sinto, extinto pouso.

Nela habitam agora, folhas, falácias
muitas? Perdeu-se a minha memória
E perde-se à fortuita
[o apaziguar dos ninhos?]

Qu'heróica é a minha pessoa! Ave glória de meus caminhos!

Espero e retruco um bolero, cânticos,
sei que os menti. Lembranças não guardo de tempo
-Mal me lembro se morri-

Mas o pranto fero que veio, e a morte
da andorinha; ou o canto de morte do colibri,
Deus! Disso eu jamais esqueci!

Um rio; 21.12.10


Um rio sem beira
Sem correnteza
Sem lado de lá

De peixes miúdos
De águas mansas
De algas macias

De sóis e de luas
E de poucas noites

Um rio amoitado de qualquer continente
Sem amor de deus ou de gente
Vivendo de morte
E morrendo de vida.

Querendo ter cais ou porto
Atracar-se em barco de pesca
Desaguar em mar seu corpo

Um rio de pedra.

Pois de arrastar solo erodido
Desmanchou-se em queda d’água
E como que em mito antigo,
Fez-se ponte sua mágoa

Um rio perdido e sem fundo
Salgado do que agora chora
Derruba as almas do mundo
Enquanto num segundo

Evapora.

Duvidazinha; 15.02.11


E se eu não sei onde é a França
O que é que tem?
Sei que lá também se cansa
Que também se cresce a pança
E o apelido de infância
Abstém.

Um gato, um sapato
meia-boca,
Cai um raio
Meia taça de veneno
Meio-dia abstraio
Se meu bem me é ameno,

O que é que tem?

No caminho, vou levando
- Meu corpo se retira -
Alma respira!
O que é que tem?

Me disseram que essa vida, se empurra com a barriga
Que o alfabeto se dissipa
Num pedaço de pão.

Que é que tem? A poesia,
Está na sopa de letrinhas
(Você cozinha?)

Dá cá a mão.

Vida minha eu encurralo
Tropeço sempre em alguém
Se sou eu, se alguém ao lado...
O que é que tem?
O que é que tem?

Semana de céu; 07.02.11


Eram três pássaros e dois deles singelos, o outro um falcão de olhos maciços. Pousados na vida de um sopro sem sorte. O primeiro fez-se o mais belo, e o mais malcriado. Voava como quem esculpia um norte distante. E um dia ao tecer o caminho, voou rumo ao céu das aves passíveis.

E assim foi-se o primeiro dia.

O segundo era tão comum de corpo e cores que ninguém o viu chegar, mas se as penas mal se erguiam os olhos poliam e lustravam o Sol. E olhava pro sopro como sua guarnição. Afobava-se sempre que ouvia de nuvens, e estrelas então! faziam-no bom. Confundiu-se no bando que migrava e perdeu-se, e achou-se, e perdeu a viagem. Ali já não se encontrava.

Dia segundo passou.

O terceiro era a noite em plenitude, uma escuridão inquieta e de pose sensível(à luz direta). Ainda assim pássaro. O mais dedicado, o mais vigilante, o que tremia no sopro e findava no alto. Planava, jamais afobado, austero e tão infinito. Até tentar bater asas. Desprendeu do ninho sem fundo e sei bem que procura de longe: uma brisa que seja, a livrá-lo do peso de ser o grande dos ínfimos. Voa ainda.

Não sei quantas Luas passaram, talvez uma, talvez todas elas, mas hesito na corrente mais fria - estar sozinha ventando me leva ao mundo do lugar nenhum.

E ainda sem asas.

Para guardar atrás; 04.01.11


Se soubesse do quanto me fiz, do tanto que fugi, do que me tornei. Se visse por dentro das costelas o oco que me afunda, o peso que me atormenta... Não iria embora. Continuaria a mentir-me até que eu morresse de vergonha da minha própria mentira, sentando-me em bancos de praça pra falar de amor. Eu, que nunca tinha amado, que sujei minha salvação, que furei a bóia. Estaríamos onde? Pendurados um ao outro nas promessas de quem mora perto e se faz distante. Disseram-me esses dias que não há o que impeça um coração, e onde é que eu enfio a cara? Você mentiu tanto, tão forte, tão claro. Não vou impedir também, pula, coração, despenca do teu barranco de meio metro, vive de tentar acabar. Eu vou andando devagarinho, ouvindo cada bendito passarinho me cantar mil asas, caçoando da minha cilada. Não vou parar e não te quero, não te perdoo, mas eu sinto tanto. Por mim e por quem ainda vai te conhecer. Uma alma boa se desdobra, quer que escorra veneno, e sai saliva; moço, você é fraco, aprende. Você precisa dos teus filtros dos cigarros jogados no quintal, das amnésias alcóolicas de que tanto se orgulha - precisou de mim! - não duvido de mais nada. Se apóia no sacrilégio de um peito maciço, de olhos pequenos, de rosto afilado. Se veste como quem se camufla. Mas se soubesse o que me fez, o que cresci no sem querer. Se soubesse o que é ser judiado, o que é ser esquecido, o que é ser rasgado ao meio com olhar de conformismo. Enfia sua pena na goela, eu não vivo do teu favor, nem você vive, por que agora o medo de olhar pra mim? É medo de se ver, de ter construído um assim como você? Só que eu sou mais forte, eu sou inerte e menos apavorada. Sou fracassada com diploma, tirando os últimos dias do amor e os primeiros do ano pra atormentar o seu silêncio trôpego. Amanhã vou pra São Paulo, me encontra na Rua Augusta, vai ao metrô comer seu crepe estragado. Vai tentando se desfazer enquanto o tempo cochila.

Monólogo frívolo sobre memórias; 23.01.11


Gosto tanto de gostar de ti
Assim, como somos nesse nosso encanto
E ainda assim, nada me espantaria
Acordar; próximo dia
Gostando-te mais um tanto.

Pergunto-me se te faz feliz
Meu gostar assim, um gostar constante
E se gostas também de mim
Se só não diz
Ou passas adiante.

Gosto-te sempre bem mais que ontem
Podendo saber gostar-te menos
Dividir com teus sonhos meu bocado
Meu humilde apanhado
De sentimentos.

Ah, cá estou,
E tanta alma diz tanta besteira!
Gosto-te sim, e daí? Não me contento.
Não hei de o sentir, o contentamento
Nem te gostando a vida inteira.

Mas se me tocas a mão em relance
Ou se me vem como quem não esquece
Gosto-te, e isso me basta
Me deixa sem graça
Me enobrece. 

Papapam-papapá; algum dia em 2010


Sapateava pelas estrelas
Nas cadentes e porosas das janelas
Pelas cortinas dos olhos dos meninos
Donos da rua, da lua e da noite.
Passinho pra cá, outro pra lá
Papapam-papapá.

Os cabelos em rebeldia
Varriam poeira
Dos asteróides rumo aos mares
Olhos fechados, e o canto de lábio
Contrário ao chão de olhos férteis.
E quase não houve Terra
Pra tantos olhos no espaço
Papapam-papapá
Fez-se som no universo inteiro.

As senhoras nas varandas enxugavam
As lágrimas com cheiro de chuva
Com jeito de garoa
E a menina dançando!
Sem ver as faces dos homens
Presas em seus dedinhos
Despidos de qualquer simetria
Vestidos de pura elegância
Tamborilando no vácuo.

A cidade já era só noite
E três mil anos luz-se passaram
Passaram pra ver sua saia
Dar asas aos ventos do leste
E o Sol chegou atrasado
Junto das nuvens mais densas
Amarradas em seus raios corteses
Papapam-papapá
Findou o show num bocejo
E a música ficou pra trás.

Papapam-papapá
Não conte essa minha história
Quadril pra cá, braços pra lá, um biquinho
E não foi escuro jamais
Os planetas foram estrelas
E os sorrisos, constelações
Brilhou nos polos mais findos
Papapam-papapá
Até hoje a bossinha ressoa.

Do alvorecer das rosas; 07.03.11

Falam as mudas, miúdas sementes
Acentue artigos se assim quiser,
Palavras coadas, talhadas por dentres,
Transcritas na forma de Mulher.

Por cá alcunham-me jardim,
Eu, célebre enfado e perecimento
E seus timbres resvalam cheiros
Que colorem-me - sou belo um momento.

Pedem-me então, as rubras,
Coradas, perenes - atônitas -
Qu'eu cubra dos passaredos
Os olhos, de suas vergonhas.

Que culpa tem, (se suspiram!)
Que as rosas, se expostas ao vento
Deitadas, desgrenham, inspiram
O desfolhar do próprio tempo...

Um bom dia; 29.08.11

Um bom dia.
O que seria?
É quando venta?
É quando atenta a alegoria,
E diz "sorria"?

Ou quando reza
Um silêncio de biblioteca
Logo cedinho?
E vêm, e cantam os passarinhos?
E se confundem os meus farelos
Com os farelos
Das plumas, ninhos?

Serão os peixes?
Que vejo e nadam quando me distraio?
Será a chuva, os livros empoeirados
Que d'água protejo?
Serão as lágrimas do meu despejo
Ou meus passados?

Passados dias,
Meus namorados?
Meus amiúdes
Meus anos falhos?

Será o bom dia
Perfumado?

Que quer que seja
Só sei que os tenho
A cada noite
A cada sonho
A cada vez
Que em pranto meigo
Choro saudades
Do meu bom ano.

Tenho um bom dia
Se me levanto.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Memorando; 01.09.11

Quando falha na escrita,
preguiça
mas quando engasga a fala
maldita seja a estrada
que nos fez desligar o rádio

Toda vez que te vejo
meus tatos velejam
num barulho de pausas
de paus-

Até que a distância
revide minha consciência
flácida
e eu me lembre que se tenho boca
e não me expresso


devia parar no meio-fio
comprar o expresso forte
e ainda mais forte
lembrar a boca da pausa do beijo.