sábado, 18 de fevereiro de 2012

Estudo I sobre tempo e espaço; 11/02/12

Em gesso molduras, em mim vestígios,
Num tear obscuro emoldurado
Passam fotografias nuas
Que mudas riem do passado


Que sofro eu! na pétrea sala, aflita,
Quando à varanda tudo em instante migra
E à parede, jovens parentes
Mortos riem do presente


Minha vida ao futuro devo
E um desenlace do viver espero
Sorrir à isso, quer maior perjúrio?

Mas se ao conforto um instante cedo
Deixo às fotografias, por seu tempo estéril
O direito de zombar do futuro.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Porque me amedrontam os equinos; 16/01/12 - 14:42

Não creio que minha birra por clichês mal aproveitados possa impedir-me de começar a descrição daquela tarde pelo céu. Não fosse por aquele céu, aliás, eu não seria capaz de vencer birra alguma - o azul me faz flexível. As nuvens estavam pingadas, como a tinta branca do pincel estivesse seca. No dizer, soa como algo arrastado, mas quando eu as fitava tinha a impressão de assistir ao rebolado do mundo. À época, éramos pequenos, terríveis. Março, Carlo e eu vínhamos correndo, ensandecidos, o rosto e o riso entregando qualquer pecado juvenil que cometíamos ansiando o inferno. Se não me trai a memória, havíamos soltado os alazões do Menelau - e deste corríamos mais do que daqueles. Sentamos enfim sob a mangueira, os meninos enxertados no suor salgado um do outro, atracados por todos os braços, cúmplices nesse mundo e em qualquer outro. Eu era a mais velha, e apesar de mais madura, era também a mais inconsequente. Tinha medo de aborrecê-los e de tornar-me aborrecida como as meninas mais moças, como Isabel, como qualquer uma que ficasse a coser e fazer caras à porta de casa em vez de divertir-se um pouco. E nessa falta de senso de minha personalidade, eu os trouxera, propositalmente, à porta do quintal de uma das casas mais antigas do interior de Minas; e com certeza a mais mítica na boca das crianças.
Quando apontei para a sombra no morro adiante, senti que tremiam. Mas eu os conhecia, sabia que fariam o que fosse por mim e para causar impressão, tão competitivos que eram. E também que aos onze anos, qualquer pequeno arrisca o corpo pela curiosidade. Por capricho, revivi em palavras, puxando pontas daqui e dali, todas as histórias que se ouvia da casa, pondo um mistério tão atrativo em cada pausa que podia ouvi-los ofegando de excitação. "Há uma velha", eu disse, "e dizem que desde os tempos da mineração, já matou mais de mil homens. Faz feitiçaria. Sob essa mangueira aqui, enterra os olhos, para que assistam às maldades maiores." Levantaram-se num pulo. Imitei-os. Ficaram frenéticos, com medo de mim. Corremos pelos arredores, eu com minhas pernas terrivelmente finas e compridas, eles tendo em seu favor o desespero. Quando demos por nós mesmos, era noite. O céu amontoava nuvens agora, como elas houvessem dado a volta à Terra e parado no mesmo ponto. Temi que chovesse, estávamos longe de casa. Não temi por muito. Logo a água era tão encorpada que era como caísse de baldes e caixas cheias sobre nossas cabeças. Segurei-os pelas mãos sem nem saber para onde os trazia, só querendo enchê-los de mãos, ser-lhes mãe e irmã como me era devido.
Quando chegamos o céu era vazio, tão seco que só o escuro o disfarçava. E nós, como lesmas desfazendo-se, pingávamos lágrimas de terror e torcíamos a chuva de nossos corpos. Deixei-os em casa e assim que desci a escada, pude ouvir em alto e bom tom que Dona Candô não mais me deixaria vê-los. Apanharam, apanharam de chorar e dedurar irmãos, de jurar por Deus. Esperei que subissem, que a luz se apagasse e os soluços silenciassem, e só então saí.
O que depois aconteceu, apesar de importante, é história. Isabel quis ajudar o Fúlvio a cuidar da chácara, que a mãe já estava chocha – era sua vez de descansar. Quando soube do acontecido, entretanto, eu já morava em Belo Horizonte e estava para acertar as contas na casa da Tia Júlia e ir buscar emprego. À noite me encontrava com o radialista mais cafajeste que pisou o mundo, mas que por mim arrastava um bonde. Bel diz que ela quase pariu o quarto filho, que duvidava das minhas cartas e que por causa minha os meninos tinham crescido errados; parece que são hoje bons ladrões de carga. Disse também que afinal, havia uma velha, mas que morrera pouco depois do ocorrido e só por agora lhe acharam os restos. Parece que teve um siricotico depois de uns cavalos em fúria terem pisoteado o pé da mangueira. 

domingo, 18 de dezembro de 2011

Decrescente; 15/12/11

Que chuva é essa que aqui me toma?  
às costas toca enquanto enxuga o rosto 
e jamais, jamais desemboca 
além de meus bolsos. 
 
Riscando à unha o céu minguado, 
tende ao meu lado mais exasperado 
mas pela rua passa, por mim... 
e numa poça pousa. 
 
Que chuva que jamais acaba!, 
tanto me lava que já não a sinto 
mas por razão qualquer não me encharca 
toca apenas, e suo, e pingo. 
 
Desritmada como esse poema 
faço-me pequena e tombo a cada passo 
como o silêncio da chuva fosse 
embaraço ou pena. 

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Uma coisinha à toa.

Certo, primeira e obviamente, isso não é um texto. É uma... Divulgação, por assim dizer. Sei que é chato, mas não acho que alguém leia esse blog mesmo. Acontece que entrei ainda há pouco numa espécie de consórcio com uma amiga em um brechó online que ela criou. As peças são no preço mais razoável possível(até porque nenhum adolescente nada em dinheiro, convenhamos), e super bem cuidadas, asseguro. Só checar, se se interessarem, já ajuda. Passar adiante é melhor ainda. :)
http://buyshit.tumblr.com/

sábado, 19 de novembro de 2011

Enquanto eu bocejava; 10.11.11 - 21:52

Há dias em que a rua é falha
e o horizonte mestiça
a moça que cedo passa
muito atalha
e desperdiça

o céu pousado, em prumo!
e o cumprimento apertado
das mãos dos olhos do rumo
perdido num pouco bocado

do tempo do meu Planalto.

(deveras, a bruma disfarça
o lilás que ela curia)
enquanto fremem-lhe os olhos
na parada eterna do dia!

tem os braços aterrados;
[temo fitá-los, pela melancolia
a que o gesto remetia
e ela não via]

quando o véu de estrelas rubras
em verde-claro pejo veio
perco a rua, namorada,
e meu puro devaneio

acaba na esquina
entre a Alvorada e a vida
[que me distraía]
enquanto a menina ficava
e a curva
sumia.

That's for you, inspirational thing; 05.11.11

Last time we met you had a funny moustache
and my nails would break so easily
from touching scats upon your face
and my fingers still hadn't met
their parents

they now use necklaces
well, everybody's a rebel those days
but what I really meant to say
was that you shouldn't dress like this if it ain't winter
or mention you were getting Cummings
while reading a bus

because once your goats ate me
and I've cut my hair without washing you out
since we no longer mess things up together
[but apparently, you still hadn't smoked all of your years]

mein lieber, once a girl fell from love
shall her skin grow and her pain rejoice
but last time we met wasn't all that long
ago, was it?

if it's my mind that you've always wanted
quit the part where you take my corpse to dinner
and live until your french is perfect
or you've forgotten
Oberst introduction to that selfish song

oh, selfish you,
next time we'll meet in graves
and my hands will keep on burning
while you nod
suddenly
cold.

Como ser manchete em manhã de cidade grande; 15.10.11

A pomba, emprumada e satisfeita,
do parapeito ainda a bruma namorava
e para cada transeunte que passava
erguia imunda, asa peito pena e cauda

quando seguia corpulenta senhorinha
ou apressada, bicava o pó no asfalto
ainda assim, atinava fluorescências
orgulhosas no pescoço imaculado

mas ao pousar janela altiva, por acaso
e ver migalhas de pão amanhecido
após semanas de estômago airado

propô-se então a matá-lo, envaidecido
pois se um salto a restringia ao vôo lento,
seria a fome a alçada ao suicídio.