muriçocas(um e outro) (18/11/13)
poderíamos ter ido juntos ao sítio do teu avô
e ao mirante no porto, ver a cidade e seus meninos
ver a cor da areia de pedras
ver os olhos um do outro
poderíamos ter plantado sementes de ipês brancos
no quintal do presidente da República
e ter criado os ipês brancos
e ter matado os ipês brancos de esquecê-los
vendo os olhos um do outro
nos meses de os aguar
poderíamos ter bebido dos cálices de nossos pais
e de prazeres, e de palavras
e da chuva que tanto tempo vimos
enquanto soubemos um do outro
poderíamos ter andado trilhas cheias de palhas de tecer colares
ter tecido nós mesmos os nossos artefatos de plantas
usando a medida dos corpos um do outro
e, nas noites muito quentes de se dormir,
poderíamos ter ido ao telhado da tua casa
embicar-nos no frio do concreto e como os leões da savana
fazer sombra um no outro
mas em vez de tudo isso estivemos matando as muriçocas
que atreveram-se a estar alheias a
nós dois.
quarta-feira, 20 de novembro de 2013
terça-feira, 4 de setembro de 2012
Um apanhado de poemas de calor
Manhã de serviço
na calha tudo vibra
nos ossos e face da casa
no medo da casa, no poço
tudo barulha
na água da sede da casa
um formidável ensaio de folhas secas
afogam-se em silêncio
sob o tremor de parentas,
o céu sempre escuro da casa
despeja sua tensão
no varal indefeso e magro.
Manhã de serviço no interior
não há quem não veja o alvoroço
que faz a perdiz na calha
a água na casa,
o vento na folha
Você no varal.
Você pousado na varanda, no quintal,
garagem.
Você em mim.
(11/6/12)
as ancas gordas da existência
me tem denegrido a imagem
perante a bem apessoada alegria:
garota em seus sessenta e quatro,
passa por mim, desolada,
apagando os próprios passos na areia.
(11/6/12)
-
(escrito c/ mão direita)
o átomo não forma os poemas
ele inclusive os empobrece muito
já que poetas têm pouquíssima
propriedade de gênese
(com exceção dos sonhos)
que, pensando bem,
também são o início
de tudo.
-
Pus Quintana sob a pia
e em vez de poesia
fiz goteira.
(1/8/12)
-
esse poema que falhou em
falar de brasília
(que é de onde eu vinha)
e que jamais senão agora poderia retratar São Luis do Maranhão...
Meu poema que na verdade é de
Ferreira Gullar
porque foi ele que o leu quando eu o fazia
[e eu fiz enquanto o lia,
como as palavras dele projetassem sempre outras mais sempre outras
e saírem de mim fosse acidente de percurso
um coerente erro de digitação
coincidências da vida são sempre irrelevantes se as percebemos
mania ingrata de notar detalhes
e achar milagre elementar, viver a vida,]
Talvez se ainda lesse a Bíblia
Pudesse fazer o poema de deus
Talvez deus leia esse poema
e faça um poema meu.
(2/9/12)
-
à hora do encontro
uma estranha falta de borda nas coisas humanas
parque de terra vermelha em rebuliço
fila indiana de luto
bigodes
um Orc ataca a princesa e
fuma um cigarro
um defunto pássaro de fotografia
um batuque que cada um escuta de um jeito
(e sempre se repete)
melancia
fim de semana estrangeiro
na minha nostalgia, a cidade
desperta as minhas alergias
e esparrama
a noite de Lua cheia
dispensa seus lobisomens
por pena
de nós, novilhos esturricados,
perdidos filhos do próprio encontro.
(3/9/12)
-
os 16 de umidade
aplicados ao horizonte infindo da ilha
de deus deus e seus querubins
secaram de tal forma meu coração
que só choro quanto meto o dedo
na quina da poesia.
(3/9/12)
na calha tudo vibra
nos ossos e face da casa
no medo da casa, no poço
tudo barulha
na água da sede da casa
um formidável ensaio de folhas secas
afogam-se em silêncio
sob o tremor de parentas,
o céu sempre escuro da casa
despeja sua tensão
no varal indefeso e magro.
Manhã de serviço no interior
não há quem não veja o alvoroço
que faz a perdiz na calha
a água na casa,
o vento na folha
Você no varal.
Você pousado na varanda, no quintal,
garagem.
Você em mim.
(11/6/12)
as ancas gordas da existência
me tem denegrido a imagem
perante a bem apessoada alegria:
garota em seus sessenta e quatro,
passa por mim, desolada,
apagando os próprios passos na areia.
(11/6/12)
-
(escrito c/ mão direita)
o átomo não forma os poemas
ele inclusive os empobrece muito
já que poetas têm pouquíssima
propriedade de gênese
(com exceção dos sonhos)
que, pensando bem,
também são o início
de tudo.
-
Pus Quintana sob a pia
e em vez de poesia
fiz goteira.
(1/8/12)
-
esse poema que falhou em
falar de brasília
(que é de onde eu vinha)
e que jamais senão agora poderia retratar São Luis do Maranhão...
Meu poema que na verdade é de
Ferreira Gullar
porque foi ele que o leu quando eu o fazia
[e eu fiz enquanto o lia,
como as palavras dele projetassem sempre outras mais sempre outras
e saírem de mim fosse acidente de percurso
um coerente erro de digitação
coincidências da vida são sempre irrelevantes se as percebemos
mania ingrata de notar detalhes
e achar milagre elementar, viver a vida,]
Talvez se ainda lesse a Bíblia
Pudesse fazer o poema de deus
Talvez deus leia esse poema
e faça um poema meu.
(2/9/12)
-
à hora do encontro
uma estranha falta de borda nas coisas humanas
parque de terra vermelha em rebuliço
fila indiana de luto
bigodes
um Orc ataca a princesa e
fuma um cigarro
um defunto pássaro de fotografia
um batuque que cada um escuta de um jeito
(e sempre se repete)
melancia
fim de semana estrangeiro
na minha nostalgia, a cidade
desperta as minhas alergias
e esparrama
a noite de Lua cheia
dispensa seus lobisomens
por pena
de nós, novilhos esturricados,
perdidos filhos do próprio encontro.
(3/9/12)
-
os 16 de umidade
aplicados ao horizonte infindo da ilha
de deus deus e seus querubins
secaram de tal forma meu coração
que só choro quanto meto o dedo
na quina da poesia.
(3/9/12)
terça-feira, 28 de agosto de 2012
quinta-feira, 7 de junho de 2012
Na ponte aérea;23/05/12
É quarta-feira
Horário de pico no Santos Dumont
Há tanto morto que não se importa.
Uma voz por quem já fui ensandecido diz mecânica
Os números do nosso antigo quarto
E chama outros com ela
E despe outros na alfândega.
O aeroporto, entretanto, estirado
Entre táxis inflacionários e shoppings centers
Penaliza a saudade que sente
Com atraso de meia-hora.
Horário de pico no Santos Dumont
Há tanto morto que não se importa.
Uma voz por quem já fui ensandecido diz mecânica
Os números do nosso antigo quarto
E chama outros com ela
E despe outros na alfândega.
O aeroporto, entretanto, estirado
Entre táxis inflacionários e shoppings centers
Penaliza a saudade que sente
Com atraso de meia-hora.
quarta-feira, 6 de junho de 2012
Não Há o Fim da Poesia; 02/06/12
Não há o fim
da poesia
Um poema não se pára com grunhidos
Porquesnkjvvfs
e afhkvfdo.
Nem com blitz cones multas:
um poema inadimplente
tem um quê de mulher madura
e não se pára a poesia com olhares!
todo estopim de rima
continua, magnético,
como amores de transportes públicos.
Mesmo que arda.
Não há o fim
da poesia
nem quando acaba o amor
os entremeios sentimentalistas
são como o fim do verso
são como o ar
que fica
onde caberia toda a virtude do lirismo e há nada
[como ao final verídico de um filme muito triste
a falta da mentira causa asco
livre de culpa]
e gera uma revolta louca e eterna
até somente a próxima estrofe,
estação ou vida
já que se encomprida
ah!
e que se encomprida
certamente
na próxima estrofe,
estação ou vida.
da poesia
Um poema não se pára com grunhidos
Porquesnkjvvfs
e afhkvfdo.
Nem com blitz cones multas:
um poema inadimplente
tem um quê de mulher madura
e não se pára a poesia com olhares!
todo estopim de rima
continua, magnético,
como amores de transportes públicos.
Mesmo que arda.
Não há o fim
da poesia
nem quando acaba o amor
os entremeios sentimentalistas
são como o fim do verso
são como o ar
que fica
onde caberia toda a virtude do lirismo e há nada
[como ao final verídico de um filme muito triste
a falta da mentira causa asco
livre de culpa]
e gera uma revolta louca e eterna
até somente a próxima estrofe,
estação ou vida
já que se encomprida
ah!
e que se encomprida
certamente
na próxima estrofe,
estação ou vida.
terça-feira, 5 de junho de 2012
O Grito Da Felicidade; 25/04/12
Eu curtia uma magrinha. Mas magrinha assim, de espetar e bater osso no
osso, que se caísse de finca na água furava o ladrilho. Na época de colégio,
era chegar uma girafinha, uma cabo-de-vassoura... E eu ir atrás carregando meus
buquês. Pessoal implicava. "Ezequiel tá embaitolando", diziam,
"e não é de hoje!". Lá pelos quinze, dezesseis, um tio preocupou-se a
sério. Eu tinha primo na capital no páreo pra governador, ano de eleição; pensa
numa dessas na boca da oposição! Fecharam-se à sala. Na época, minha garota
tinha ido pro estrangeiro eu andava mesmo muito sem jeito de olhar as outras -
todas de rebolado forte, sem saboneteira. Viver era um sacrilégio.
Terminada a
reunião, eu já pensava nas ideias. Iam querer me casar. Iam, iam querer me
casar e me pôr para morar com ela, ela que ia ser uma dessas
"mulherão", parecer jogador de críquete. Não ia nem ter o ossinho - ai! - da base das costas. Um dia teria filhos e seria o fim de tudo; os quadris ocupariam a cama.
Manchete: morre o marido esmagado. Moleque que era, só fazia suar.
Quando me
veio o tio, chorei histérico. Acabou que o resolvido era carregarem-me de todo
jeito ao prostíbulo da Joyce(a mesma Joyce que meu pai chamava quando bêbado) e
caparem-me a virgindade enquanto essa existia. Fiz que era alívio, tomei um
banho. Pensei na moça com quem deixava de casar e conhecer, nela toda de véus e
papagaiagens. Senti saudade pela primeira vez das coisas ruins que não chegam a
acontecer. Chorei de novo.
Lá chegando, ainda pensava na minha magrinha. Na
cavalona da imaginação. Acho que olhando bem nos olhos daquelas putas, essas
paixões antigas todas me envelheceram no peito. Senti que eram ossos do ofício
estar ali - quis até ter tido bigode. Era um mártir da pura raça, o Getúlio
entregando a presidência, o terno preto do rei Roberto. Nesse acochambramento
heroico, acabei por deixar escolherem-me a minha.
Tesa, meio alta, muito
prática. Fiquei mais tenso que se fosse gorda. Joguei conversa. Eu nunca tinha
visto uma mulher com tão pouca roupa e nela, tão escrachada, procurei qualquer coisa
sobrando, como de costume. Uma gordura, coxas roliças, braços cheinhos. Faltava
tudo, perfeitamente encovada. Até a voz riscava. Constatei: não era desnutrida, era infeliz.
A gente
se amou demais. Como era louca essa coisa de sexo, uns bichos se esfolando, uma
alegria tremenda. Ela tinha nas costas ossinhos que voavam. Gritou um
tanto.
A sustança de um dos gritos me afagou lá dentro. Fomos embora em seguida. Ainda em horas passadas eu sentia o estufamento daquele grito. A braguilha custou a fechar. O tio, óbvio, deu-se por satisfeito, no dia e em muitos depois. Eu, o Ezequiel das
vassouras, deslanchei a pegar mulheres mais cheias, mulheres várias. É claro
que jamais deixei de curtir magrinhas, mas era ver uns ossinhos saltados e
lembrar do grito que aquela coitada deu. E lembrar do grito era também lembrar de saber
que a felicidade é uma coisa danada de gorda.
Um Trato Na Tempestade; finzinho de abril
Quando pensava em bruma - névoa
e em trégua, então? Que covardia...
Iam as horas, o barco, a proa e espuma;
Tudo era réstia de guerra na baía.
Se vinha a areia e aos pés acarinhava
Minha pele quente a desmentia
Abocanhava um punhado, contornava,
E entregava num escarro à agua fria
Mas hoje o mar parecia tão coitado
[Acho que até quem já não mais se debatia
Mereceu menos prece de vida]
Que todo amor de meu peito fustigado
Desceu chorando o sangue da guerrilha,
E amou, mais que à ferida,
O beijo que a adormecia...
Iam as horas, o barco, a proa e espuma;
Tudo era réstia de guerra na baía.
Se vinha a areia e aos pés acarinhava
Minha pele quente a desmentia
Abocanhava um punhado, contornava,
E entregava num escarro à agua fria
Mas hoje o mar parecia tão coitado
[Acho que até quem já não mais se debatia
Mereceu menos prece de vida]
Que todo amor de meu peito fustigado
Desceu chorando o sangue da guerrilha,
E amou, mais que à ferida,
O beijo que a adormecia...
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