segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Ao Sol do Mediterrâneo

Levantar ao Sol do mediterrâneo, contrariando a vulgaridade ultrajante dos outros sóis, coincide com o acordar. Aqui, as cortinas de xale bege lentamente abrem espaço em sua janela, e agora olho pro mundo sem fazer questão de vê-lo. Mulheres de pele acaju se rendem muito cedo às tarefas do dia-a-dia, e mesmo assim constituem minha primeira visão de domingo. Tantos homens se levantam, como ouço nas histórias, e continuam a dormir, trocando flatulências soníferas até voltarem ao travesseiro... Pois aqui pássaro nenhum ousa por canto no silêncio da fotografia que são nossas janelas. Os barcos atracam, e levam embora poetas saídos do mar. E o mar? O mar é mesmo o caos. O que há de claustrofóbico, além das constipações humanas e sua desonestidade. Somente o mar, nada que vá e não contenha suas ondas, carregado das correntes ressonantes. Que resta a nós se não o contemplar, fazer música e esperar que ele a toque. Mar é maior que o instigante ou prazeroso. Essas almas que se ajuntam confraternizam o melhor que se há de ter, mas bem sabendo que nossa terra, não nos possui. Homens de bem, desgarrados pelo mundo, porque ilha como essa nem Crusoé conheceu, apesar dos filhos dos indígenas miscigenarem nossa raiz. Temos fome de colheita, de arvoredos, e nossas árvores brotam de espelhos d'água. Ah, os ignóbeis que jamais tornaram a vir, porque assistir-nos não os torna pertencentes. Acordei, estou de pé, os pescadores tecem redes com os dentes, tenho calos nas mãos e queimaduras tatuadas, é quase hora de descer à praia. Que é a praia, perguntaria algum peixe de outra lua, esta recoberta pelas zonas abissais. É onde acaba o mar, responderia o almirante calejado. Mas a que mais me cabe em questão de conhecê-la, é a dos piratas. "Porque a praia é meu cochilo inerte, carregado de sonhos e tesouros viscosos". E o que ser senão isso? A praia guarda minhas conchas e os corpos dos antigos que caíram ao curvarem-se. Acordei ao levantar. As lavadeiras tem o sal a seu favor. Vejo gaivotas guardando pelos maridos das amarras. Que hei de dizer? O mundo é pouco ao se dizer bonito. Sobrou aos homens fazê-lo. Aqui, onde as janelas são fotografias.

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