Eu curtia uma magrinha. Mas magrinha assim, de espetar e bater osso no
osso, que se caísse de finca na água furava o ladrilho. Na época de colégio,
era chegar uma girafinha, uma cabo-de-vassoura... E eu ir atrás carregando meus
buquês. Pessoal implicava. "Ezequiel tá embaitolando", diziam,
"e não é de hoje!". Lá pelos quinze, dezesseis, um tio preocupou-se a
sério. Eu tinha primo na capital no páreo pra governador, ano de eleição; pensa
numa dessas na boca da oposição! Fecharam-se à sala. Na época, minha garota
tinha ido pro estrangeiro eu andava mesmo muito sem jeito de olhar as outras -
todas de rebolado forte, sem saboneteira. Viver era um sacrilégio.
Terminada a
reunião, eu já pensava nas ideias. Iam querer me casar. Iam, iam querer me
casar e me pôr para morar com ela, ela que ia ser uma dessas
"mulherão", parecer jogador de críquete. Não ia nem ter o ossinho - ai! - da base das costas. Um dia teria filhos e seria o fim de tudo; os quadris ocupariam a cama.
Manchete: morre o marido esmagado. Moleque que era, só fazia suar.
Quando me
veio o tio, chorei histérico. Acabou que o resolvido era carregarem-me de todo
jeito ao prostíbulo da Joyce(a mesma Joyce que meu pai chamava quando bêbado) e
caparem-me a virgindade enquanto essa existia. Fiz que era alívio, tomei um
banho. Pensei na moça com quem deixava de casar e conhecer, nela toda de véus e
papagaiagens. Senti saudade pela primeira vez das coisas ruins que não chegam a
acontecer. Chorei de novo.
Lá chegando, ainda pensava na minha magrinha. Na
cavalona da imaginação. Acho que olhando bem nos olhos daquelas putas, essas
paixões antigas todas me envelheceram no peito. Senti que eram ossos do ofício
estar ali - quis até ter tido bigode. Era um mártir da pura raça, o Getúlio
entregando a presidência, o terno preto do rei Roberto. Nesse acochambramento
heroico, acabei por deixar escolherem-me a minha.
Tesa, meio alta, muito
prática. Fiquei mais tenso que se fosse gorda. Joguei conversa. Eu nunca tinha
visto uma mulher com tão pouca roupa e nela, tão escrachada, procurei qualquer coisa
sobrando, como de costume. Uma gordura, coxas roliças, braços cheinhos. Faltava
tudo, perfeitamente encovada. Até a voz riscava. Constatei: não era desnutrida, era infeliz.
A gente
se amou demais. Como era louca essa coisa de sexo, uns bichos se esfolando, uma
alegria tremenda. Ela tinha nas costas ossinhos que voavam. Gritou um
tanto.
A sustança de um dos gritos me afagou lá dentro. Fomos embora em seguida. Ainda em horas passadas eu sentia o estufamento daquele grito. A braguilha custou a fechar. O tio, óbvio, deu-se por satisfeito, no dia e em muitos depois. Eu, o Ezequiel das
vassouras, deslanchei a pegar mulheres mais cheias, mulheres várias. É claro
que jamais deixei de curtir magrinhas, mas era ver uns ossinhos saltados e
lembrar do grito que aquela coitada deu. E lembrar do grito era também lembrar de saber
que a felicidade é uma coisa danada de gorda.
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