segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Carta do até breve; 20.12.10

Beatriz!
Como estás, diga? Há tempos não me dás notícias. Ainda magoada com teu velho amigo? Não maltrata-me assim, guria. Sabes que minha doença é hereditária e que morrer antes de ti há de ser triste só para mim, que não vou te ver vingar como tens feito. Pra isso mesmo é que te escrevo. Eu é que sei dizer o quanto te fui feliz, morninho de início até ferver-te os ossos. Perdoa os meus dias infinitos, minhas benditas segundas-feiras, os meus minutos que não prolonguei e os meses que não estendi. Perdoa o calor e o bom-humor que te pus no corpo contra a vontade, e perdoa-me muito pelas coincidências a que te submeti. Perdoa essas minhas pessoas que nasceram em tua vida durante a minha, e as que morreram sem nenhum de nós querer. Perdoa as músicas que foram tocadas e que hoje desmancham teu riso, perdoa, sim?
Estou cansado, bom anjo. Sabemos dos nossos motivos, não? Cansei-te demais também. Mas o que vi e que vivi ao teu lado o infeliz do tempo jamais apaga. Juro que fiz de mim o maior dos sóis no teu aniversário, mas cresceste um de mim a cada dia. Lamento que sinta-se tão velha e tão afobada pra o amanhã, e mais ainda que chores tanto nas despedidas. A parte de ti que mataste se enrola no túmulo para criar as esperanças, e você aí, sumida, enfiada no teu canto como que a evitar-me. Amei-te e odiei-te muito, meu doce, mas é que nossa personalidade em tanto se parece que vivíamos a bater de frente... Passe bem o teu Natal, e olhe para o céu no dia 31. Se procurar direito vai ver-me indo pra onde meus antepassados se foram: pra dentro da tua memória. E saiba que é da natureza fazer-se em ciclos, não renegues do teu, não quando tudo está tão encaminhado. Tu és linda e grande, e um tantinho menos efêmera que teu andarilho aqui. Segue teu caminho que amanhã vem o depois. 
Sê boa a ele como me foi, e reze pra que ele lhe seja doce. 
(Ah, e não é culpa minha que teu país foi pegar o tipo 4 da dengue justo em mim, dá-me o desconto).

Beijo do coroa enxuto,
Teu ano velho.

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