segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Dos que vêm no sono; 17.01.11

Ando perdendo-me tanto, e que coisa mais louca é andar pelas ruas de São Paulo sem saber dar-lhes nome, e ainda assim conhecê-las de alma! Ver nos olhos do metrô os reflexos de tantos corpos jogados aos trilhos, tantos pensamentos na lixeira esperando sua deixa, sua vez, seu dia de glória, que será o último. Ando lendo muito menos do que gostaria e ainda assim tanto que não me resta tempo para guardar nos confins da memória o que penso de cada serena linha, de cada parada brusca que sinto ao fim de um ou outro parágrafo. Ando sentindo tanta raiva não canalizada, tanto amor despreparado, e que amor vem pronto, menina estúpida? Mas mesmo assim, ando com tanta preguiça de desvendar isso e aquilo outro que chamo de mistério, de aprender a me virar com as oitavas do piano, tão desmotivada com minhas próprias dimensões. O mundo anda tão coitado, e de tão inofensivo anda tão austero! Não tenho braços para envolvê-lo nem nome para chamá-lo: é mundo e pronto. Tenho tido isso de me arrepiar por qualquer bobeira, de não chorar por anos inteiros, de prometer mil coisas e morrer dormindo. Ah, que tipo de ser não se diz um fugitivo eterno, uma laranja mofada cheia de culpa por estragar tudo que toca? Quem é que ainda tem fé -que me venda - porque quem é que ainda dá por ter demais? Eu ando me fazendo de desentendida, ando sorrindo como quem sabe a fórmula para se conseguir dinheiro e quem nunca teve sequer uma noite mal dormida. E vocês, pedaços de qualquer coisa, morrem de comodidade com o drama alheio. Ah, pois não, a senhora quer ser salva da própria incredulidade? Fila 3, por favor. Cinquenta anos de espera, se pegar a senha rápido.
Ando desesperada com tanto desmazelo, tanta frieza no toque, tanta palavra como fogo de artifício: uma só vez no ano, aos olhos esperançosos de mil idiotas, e que acaba por virar fumaça fedorenta, os envolvendo e encaminhando à mesmice de seus objetivos ultrajados e utópicos. Procuro em todas as direções um pé de amora novo, um bocado de clareza, e é tudo tão longe, tão grande!
Eu ando, e isso você não espalhe, querendo ter quem me ame, só pra ter com quem dividir tanto mundo. Mas acontece que ao mesmo tempo que sobra mais da minha metade, estou cheia até os cabelos de contas a pagar, afazeres e obrigações sociais afoitas. Ando achando muito e fazendo pouco, ando ansiosa e deprimida com meu fracasso em tantos sentidos, minha repetição, a sensação de ser reprise do último capítulo da novela(aquele que todos viram no dia anterior e que só serve aos mais desatentos e entediados).
Ando saindo por dizer que tenho muitos compromissos, e inclusive comprometida demais com cafés e revistas manipuladas pelos grandes para fazer a cabeça do resto. Ando cansada, fatigada de ser resto, e com uma preguiça danada de lutar pra me fazer do outro pólo. Mentir ou ser mentida? Bah, ando comendo pouca fruta, fazendo exercício nenhum, assistindo filmes cheios de Jack Blacks e Adam Sandlers - e ando desprovida de culpa por fazê-lo. Na verdade, ando de saco cheio. Sei tanto o que quero que não mais vou à Igreja, e valorizo tão mais meu suado dinheiro quanto aprendi a não gostar de como os olhos humanos o priorizam. Ando vendo muita televisão, e contabilizando nos fios de cabelo a irresponsabilidade geral e suas consequencias envolvendo quedas de barrancos e o que quer que seja. Aliás, precisava morrer o pobre do cachorro? Ando gostando muito de gatos, mas a culpa de tudo isso é de todos menos do animal, vítima da baderna e caos em que se encontra o mundo. E esse, caminhando pra um colapso que se adia, só em nome de me fazer andar e andar e sentir que não saí da rua. Aquela mesma de São Paulo, onde me encontro agora, cavoucando na mente meias palavras e meias verdades e contentando-me com a ânsia de fazer papel qualquer uma delas: por ora, isso me faz feliz.
E se quer saber, eu ando mesmo é atrás dos meus bocados de alegria, ilusória ou não. É que tenho andado demais.

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