segunda-feira, 15 de agosto de 2011

(Este lado para cima); 05.04.11

Vai
Vai, mas guarde as cartas nos sapatos
Que tanto fiz para perder, debaixo da cama
E não consegui

Vai e enquanto ainda vai,
tropeçe uma vez ou duas
faça feliz minha vaidade
em ver-te cambalear
Deixe eu pensar que é falta de mim

Vai e me arranque os dedos
Um por um
Das costas dos seus braços finos
Me belisque se necessário
Pise no solado
Do sapato outra vez

Mas vai
Vai como veio, solto
Ou como fica ainda encolhido
Na trincheira do meu portão
Que range e rosna, coçando
As suas pulgas e percevejos

Vai
E compre CDs melhores
Para suas próximas cônjuges
(não as chame assim)
Mas continue criando gírias
E nunca deixa puberdade alguma te mudar a voz

Vai na chuva e sem correr
Faça o favor de evitar as curvas
Pra que eu sempre possa lembrar
De que você está me esquecendo


Vai porque o relógio desfiou os ponteiros
Pra dar logo a sua hora
E eu não sei costurar

Anda, vai, não se demore com despedidas
Não quero olhar no calendário
Que dia é hoje

Vai!
Não sei manter a postura
Caminho chutando latas
Procurando pedras
Enlameadas
Com marcas de sapatos
Que por pouco você não acha
Debaixo da cama
Cheia de quinas e restos de cartas.

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